Importância da alimentação complementar

A alimentação da mãe durante a gravidez, e da criança, do nascimento até o final do segundo ano de vida, exerce influência direta na saúde do bebê até a vida adulta. Conhecida como programação metabólica, a exposição a uma alimentação inadequada e/ou precoce nos primeiros mil dias da criança (da concepção aos 2 anos de vida) aumenta o risco de desenvolver alergias e ganhar peso excessivamente, e, como consequência, eleva as chances do aparecimento de doenças relacionadas à obesidade, diabetes, hipertensão e aterosclerose no futuro. Segundo as recomendações do Ministério da Saúde brasileiro e da Organização Mundial da Saúde (OMS) os alimentos complementares devem ser introduzidos aos 6 meses de idade, quando as necessidades nutricionais da criança já não são mais atendidas só com o leite materno, embora este ainda continue sendo uma importante fonte de calorias e nutrientes, devendo ser mantido até 2 anos ou mais. A orientação para que a introdução alimentar complementar ocorra a partir do sexto mês de vida do bebê, e não antes disso, tem seus motivos. É nesta idade que o bebê apresenta maior maturidade fisiológica e neurológica para receber outros alimentos, como por exemplo, a diminuição progressiva do reflexo de protrusão da língua, o que facilita a ingestão de alimentos semissólidos, a produção de enzimas digestivas em quantidade suficiente para esta fase e o desenvolvimento da habilidade de sentar, o que permite o uso de colher ou o pegar dos alimentos com mais facilidade.
A introdução progressiva das refeições A primeira papa principal deve ser oferecida a partir do sexto mês, no horário do almoço ou jantar, conforme o horário em que a família estiver reunida, completando-se a refeição com o leite materno até que a criança se mostre saciada apenas com a papa. As frutas in natura, preferencialmente sob a forma de purê, devem ser oferecidas nesta idade. Para evitar que a criança se sacie com muito líquido, os sucos devem ser evitados. Á agua é bem vinda ao longo do dia, entre as refeições. Do sétimo ao oitavo mês a segunda papa principal deve ser introduzida. Dessa forma, dos seis aos onze meses, a criança amamentada estará recebendo três refeições com alimentos complementares ao dia (duas papas principais e uma de frutas) e leite materno em livre demanda. Para a criança que não estiver em aleitamento materno é recomendado que receba cinco refeições (duas papas principais e três de leite) além das frutas. A respeito das quantidades, a orientações é iniciar com uma a duas colheres de chá, colocandose o alimento na ponta da colher e aumentando o volume conforme a aceitação da criança. A exposição frequente a um determinado alimento e a criatividade na preparação e na apresentação facilitam a aceitação. Em média, são necessárias de 8 a 15 exposições ao alimento para que ele seja plenamente aceito pela criança.
Como a papa deve ser composta? Diferente do passado, a recomendação atual preconiza que desde os 6 meses exista a introdução de ovos e peixes sem espinhas, visando à aquisição de tolerância e à redução do risco de alergia alimentar. A refeição deve conter pelo menos um alimento de cada um dos seguintes grupos: Cereais ou tubérculos: Arroz, milho, quinoa, cevadinha, mandioca, cará, inhame, macarrão. Leguminosas: feijão, soja, ervilha, lentilha, grão de bico. Carnes: bovina, aves, suína, peixe ou vísceras, em especial o fígado, ou ovo. Hortaliças: verduras e legumes. Até 1 ano de idade, as restrições alimentares ficam por conta do consumo de sal (preferir ervas e especiarias) e mel, a fim de evitar o risco de contaminação por botulismo. Segundo a OMS, o açúcar deve ser evitado até os 2 anos
A consistência dos novos alimentos Embora nos consultórios pediátricos o termo “papa salgada” “papa principal” ou “papinha” seja muito utilizado, os alimentos oferecidos na introdução alimentar em nada se parecem com uma sopa homogênea de consistência líquida e com aparência e sabor monótonos. No princípio da introdução alimentar, aos 6 meses, os alimentos devem ser bem cozidos e amassados no garfo, nunca liquidificados ou peneirados. Nessa idade, o estômago do bebê tem o tamanho reduzido e a administração de alimentos muito diluídos irá saciar a criança, sem, contudo, oferecer quantidade adequada de calorias e nutrientes. A aparência e consistência devem ser a de um purê. Ao invés de misturar todos os alimentos, apresenta-los separadamente para que a criança reconheça o que está sendo consumido e desenvolva aos poucos o paladar e as preferências alimentares é o mais recomendado. A identificação de sabores, aromas e texturas dos mais diversos alimentos oferecidos dá início a uma verdadeira educação alimentar. A consistência da comida deve aumentar progressivamente, de forma que aos 9 meses a criança inicie o consumo de alimentos semissólidos.Sabe-se que as crianças que não recebem alimentos em pedaços até os 10 meses apresentam, posteriormente, maior dificuldade de aceitação de alimentos na sua forma integral. Aos 12 meses a criança deve receber a refeição com consistência semelhante à da família.
Cuidados com a higiene Um aspecto importante a ser comentado é que o pico de incidência de doenças diarreicas ocorre durante o segundo semestre de vida, ocasião em que se inicia a ingestão de alimentos complementares. Isso chama a atenção também para o cuidado com a fonte desses alimentos, o preparo, o estoque e a conservação.
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